Grife carioca inicia projeto de exportação no Coachella
31/03/2016

Em parceria com o e-commerce Revolve, a Farm terá um ponto de venda no festival californiano. Plano de internacionalização prevê lojas próprias em Los Angeles e Miami, como falam em entrevista os sócios da marca, Kátia Barros e Marcello Bastos

Nos palcos, LCD Soundsystem, Guns N’ Roses e Calvin Harris. Na plateia, jovens cheias de atitude, de short jeans, top e botinhas, vestidos de trama, chapéus enormes e bijuterias idem. Isso sem falar nas tatuagens e nos makes metalizados. O festival de música Coachella, que ocorre entre os dias 15 e 17 e 24 e 25 de abril, é um celeiro de mulheres modernas e estilosas. Um bom lugar, portanto, para a mais carioca das marcas, a Farm, iniciar seu projeto de internacionalização. Em parceria com o e-commerce americano Revolve, a empresa venderá peças em um stand montado no evento. “Temos o comportamento jovem no nosso DNA. No Rio, ele se reflete no carnaval, no Baixo Gávea. Na Califórnia, nos festivais de música”, diz Kátia Barros, diretora criativa e fundadora da Farm.

Após o sucesso do primeiro showroom da marca em Nova York, em 2015, a ideia é abrir lojas próprias em Los Angeles e Miami e inserir as peças coloridas da grife em editoriais de revistas e blogs dos Estados Unidos. Para ajudar nessa missão, em agosto, a Revolve mandará dez blogueiras estrangeiras para a Casa Farm, que será montada durante as Olimpíadas do Rio no IED, no bairro carioca da Urca. Com investimento de R$ 5 milhões, o projeto tem Sadia e Ambev com o patrocinadores e realizará eventos e atividades culturais no período dos jogos.

Marca símbolo do lifestyle alegre e despojado do Rio, a Farm foi criada há quase vinte anos. Kátia trabalhava na área de ciências contábeis e começou a vender algumas roupas coloridas do jeito que gostava ao lado do melhor amigo, Marcello Bastos, na Babilônia Feira Hype. O negócio vingou e, hoje, os dois comandam uma empresa de 900 funcionários, 60 lojas e começam a traçar o plano de expansão da Farm para o mundo. O entrosamento entre os sócios fica evidente em momentos como a convenção de varejo da empresa, realizada em fevereiro em um casarão no alto do bairro de Santa Tereza.

Parecia cena de filme com direção de arte impecável: de dentro de uma piscina enfeitada com boias coloridas, vendedoras, gerentes e designers assistiam atentos aos discursos dos empresários que, além de apresentarem a nova coleção, abordaram temas caros à grife, como a construção da marca e o atendimento nas lojas (em dezembro, uma cliente disse ter sofrido ‘gordofobia’ na unidade do Shopping Iguatemi de São Paulo). O evento contou com desfile, show da banda descolada Mohandas (que faz um som louco meio ‘etnopop’) e apresentação do rapper Criolo. Bem no clima descontraído e colorido que a Farm quer exportar para o mundo. É sobre o que Kátia e Bastos falam na entrevista a seguir.

Por que exportar faz sentido exportar a moda carioca da Farm?

Kátia: Na Farm, a gente gosta muito de falar da cultura do Brasil, da nossa essência, do que está perto da gente. De valorizar o nosso colorido, a nossa geografia, o nosso tom de pele. Acho muito curioso quando vamos para fora, por exemplo para a Suécia, a Escandinávia, e vê aquelas pessoas alvas, altas. Ficamos um pouco peixe fora d’água. A moda que faço é para valorizar essa nossa beleza nessa paisagem. Existe uma roupa que dá sentido para isso tudo e é ela que gosto de fazer. Só que essa roupa tem uma alegria que contagia o resto. O movimento começou quando saímos do Rio e fomos para São Paulo. Achei que não ia colar. Bobagem. O paulista também tem fim de semana, vai tomar chope na Vila Madalena. Esse clima vai além do lifestyle carioca e vale para qualquer um em qualquer lugar do mundo.

Bastos: No mundo todo, as pessoas param nossas vendedoras e estilistas para saber o que estão vestindo. Em 2005, chegamos a ter uma pequena venda na Galerie Lafayette, em Paris, no ano do Brasil na França. Na época, não estávamos preparados para expandir. Queremos fazer um projeto de internacionalização e não apenas exportar. Queremos criar um plano pioneiro para explorar o mercado externo.

Como será esse projeto?

Kátia: Vamos manter a nossa estampa, o nosso DNA, como fizemos na colaboração com a Adidas, que está indo para a sexta coleção e é um sucesso absurdo de vendas em mais de 100 países. Criamos uma equipe de internacionalização. É um projeto que é ousado. Não vamos chegar em multimarcas, mas com lojas próprias. Vamos chegar com autoridade.

Bastos: Temos um branding forte e capital para isso. Contamos com a estrutura do grupo Soma (ao qual pertence a Farm e também as marcas Animale, A. Brand, Vitorino Campos, FYI, Fábula e Foxton), que no ano passado faturou 988 milhões de reais. Começaremos com um stand no Coachella e já temos um plano de internacionalização. Precisamos descobrir a forma como a americana vai usar nosso produto e, a partir daí, colocá-lo em revistas e blogs de moda. Estamos investindo em uma boa assessoria de imprensa internacional e vamos participar de uma grande feira de varejo nos Estados Unidos. Isso vai custar 100 mil dólares. É pouco, pensando que uma loja da Farm custa a partir de 1,5 milhão de reais e mais 700 mil reais de capital operacional.

Onde devem ser as lojas?

Bastos: Já mapeamos alguns pontos. Devem ser três em Miami e três em Los Angeles. Hoje conseguimos fazer isso por causa da alta do dólar. A diferença para dois anos atrás está aí. Para termos preços competitivos lá fora, pelo menos 40% da nossa produção precisaria vir de outros mercados, como a China. A alta do dólar é positiva para nós, pois torna o preço do que é produzido no Brasil mais competitivo no mercado americano. Consultei especialistas e não deve haver uma grande baixa nos próximos cinco anos, que é o tempo necessário para nos estabelecermos lá.

Por que participar do Coachella?

Kátia: Temos o comportamento jovem no nosso DNA. No Rio, ele se reflete no carnaval, no Baixo Gávea. Na Califórnia, nos festivais de música, que unem as pessoas em um lugar divertido e gostoso. Ao ver a roupa da Farm inserida nesse contexto, o público já vai associando e entendendo o que é o produto.

Qual a receita para manter uma sociedade de quase vinte anos?

Kátia: Eu e o Marcello somos melhores amigos. Em vinte anos de parceria, nunca tivemos grandes divergências. Briga, nenhuma. A gente trabalha em harmonia, pensa e olha sempre para o mesmo lugar. Ele costuma dizer que, mesmo na área dele, a administrativa, se houver alguma divergência, a palavra final sempre será minha. Mas nunca precisei exercer isso.

Bastos: Existe amor e confiança entre nós. Brinco que na questão do litígio, ela sempre tem a palavra final. Acho a Kátia a melhor profissional na área dela, no que diz respeito a conceito, e acredito que ela também me acha muito bom. Isso ajuda.

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