Reforma de Trump atrai empresas brasileiras para os Estados Unidos
07/03/2018

Atraídas pela perspectiva de redução de impostos pelo governo Trump, empresas brasileiras abrem escritórios para fazer negócios via Estados Unidos

A ideia de ter um escritório nos Estados Unidos estava nos planos da consultoria internacional Orbiz havia pelo menos três anos. Seus sócios estudavam a possibilidade com seriedade, diante das vantagens no horizonte, mas adiavam a medida. Como acontece na maioria das vezes, a tomada de decisão se deu por um empurrão – ou melhor, no caso foi um encontrão daqueles. A Orbiz entrou em uma licitação para prestar um serviço no exterior a um cliente brasileiro. Mas o vencedor da concorrência foi uma empresa estrangeira, que ofertou o mesmo serviço por um preço menor. Sua vantagem primordial era justamente estar baseada nos Estados Unidos e pagar menos tarifas e impostos. O preço significativamente mais alto apresentado pela Orbiz foi decisivo para a derrota.

Depois da pancada, a Orbiz organizou toda a papelada e abriu seu escritório americano. “No primeiro ano de empresa nos Estados Unidos, faturamos o que demoramos cinco anos para faturar no Brasil”, disse Araceli Dias, sócia da Orbiz. A filial em Miami, na Flórida, permite à consultoria pagar menos taxas e impostos se fizer negócios por lá, o que a torna mais competitiva. Para atender a um cliente no exterior a partir do Brasil, a Orbiz pagaria, por exemplo, 30% de imposto sobre remessas de dinheiro ao exterior no pagamento a consultores ou fornecedores – o governo americano não cobra por isso. Enquanto a alíquota de Imposto de Renda para empresas no Brasil é varíavel, de difícil entendimento e pode chegar a 40%, nos Estados Unidos o percentual é fixo e está sendo reduzido de 35% para 21%. Não dá para comparar.

A redução na alíquota é parte da reforma tributária colocada em prática pelo governo do presidente Donald Trump, numa tentativa de atrair empresas de volta ao país. Economistas questionam a ideia de Trump, um tanto polêmica pela lógica econômica: reduzir impostos funciona para reativar uma economia em recessão, mas pode ser perigoso num país que está crescendo e onde o índice de desemprego está baixo. O resultado pode ser o superaquecimento da economia e uma alta da inflação. Trump não quer saber disso. Atrair empresas combina com o mantra que o elegeu, o “Make America great again” (“Faça a América grande novamente”), que significa atrair de volta ao país empresas que foram para a China ou para outros países e gerar empregos para americanos. Seus eleitores gostam. As empresas brasileiras e estrangeiras também.

O corte da alíquota do Imposto de Renda pago pelas empresas é o eixo central da reforma americana, aprovada pelo Senado em dezembro do ano passado. Trump também pode se defender, pois já é uma tendência mundial. Um estudo elaborado pela consultoria EY mostra que 83% de 202 jurisdições, em 193 países, têm alíquotas de Imposto de Renda para empresas menores que 30%. Entre os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a média caiu consideravelmente, de 32,5% em 2000 para 24,2% em 2016. De 2000 a 2016, a Alemanha diminuiu de 50% para 30%, o México de 35% para 30% e o Reino Unido de 30% para 17% (até 2020). A Argentina está amarrando uma reforma para diminuir sua alíquota de 35% para 25% até 2020. No Brasil, no entanto, o Imposto de Renda manteve-se em 34% em média.

Desde que o governo Trump começou a cogitar a reforma, o movimento de empresários brasileiros aos Estados Unidos para abrir uma subsidiária ou uma filial ganhou impulso. Não é preciso ter funcionários ou uma grande estrutura no país: basta um escritório e um registro local, equivalente ao CNPJ, que permita prestar serviços e emitir comprovantes fiscais.

A consultoria Drummond Advisors, especializada em ajudar as empresas brasileiras nesses trâmites burocráticos nos EUA, viu o número de clientes mensais saltar de dois para 15 no ano passado. “Depois da chacoalhada vivida no Brasil, o empresário está com receio de ter uma nova crise”, disse Michel de Amorim, sócio da Drummond baseado em Miami.

Na esteira dessa “chacoalhada econômica” – a recessão provocada pela malfadada política econômica do segundo mandato de Dilma Rousseff –, a Ícaro Tech, que presta serviços de tecnologia, abriu sua subsidiária americana. “Foi uma estratégia para tentar evitar os violentos ciclos nacionais e reduzir os riscos”, disse o sócio Kleber Stroeh. Outro fator foi a possibilidade de explorar o mercado americano, que, segundo Stroeh, pode ser até dez vezes maior que o brasileiro. Não à toa, a participação da receita internacional no total de ganhos da empresa está crescendo: saiu de 3% em 2016 para 5% em 2017. A projeção é alcançar 7% em 2018.

Assine nossa newsletter!

    Aceito a Política de Privacidade


    Aceito receber informativos por e-mail, SMS e WhatsApp.

    Precisa de Ajuda?
    Fale Conosco!